sexta-feira, 1 de abril de 2011

Árvores em flor


Poema das árvores


As árvores crescem sós. E a sós florescem.


Começam por ser nada. Pouco a pouco

se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.


Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,

e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.


Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,

e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,

e os frutos dão sementes,

e as sementes preparam novas árvores.


E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.

Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.

Sós.

De dia e de noite.

Sempre sós.


Os animais são outra coisa.

Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,

fazem amor e ódio, e vão à vida

como se nada fosse.


As árvores, não.

Solitárias, as árvores,

exauram terra e sol silenciosamente.

Não pensam, não suspiram, não se queixam.

Estendem os braços como se implorassem;

com o vento soltam ais como se suspirassem;

e gemem, mas a queixa não é sua.


Sós, sempre sós.

Nas planícies, nos montes, nas florestas,

A crescer e a florir sem consciência.


Virtude vegetal viver a sós

E entretanto dar flores.



António Gedeão


1 comentário:

Beleza Natural disse...

Lindoo trabalho e linda poesia.Boa semanapra ti Mym!